CATI-SP

Produção Vegetal


Aspectos Climatológicos na Cultura da Banana

1. Introdução

A banana está entre os mais importantes frutos comestíveis em todo o mundo, quer sob o ponto de vista de tonelagem produzida e comercializada, quer por seu valor alimentício energético, podendo ser consumida em diversas formas tanto "in natura" como industrializada.

A bananeira é uma planta de origem tropical úmida, estando hoje situada em regiões de clima tropical a subtropical, com distribuição de cultura econômica compreendida entre as latitudes 25° N e 25° S apesar de que, encontramos cultivos de banana em latitudes maiores.

Inúmeros fatores afetam o sucesso do cultivo da bananeira, como o controle efetivo de pragas e doenças, a atenção quanto às recomendações de calagem e adubação, os cuidados na colheita e no pós-colheita para citar apenas alguns exemplos.

No entanto, primeiramente, quando do estudo da implantação da cultura da banana em uma determinada região e, para que deste cultivo alcancemos o máximo retorno econômico, devemos dar atenção especial aos aspectos climatológicos que afetam esta cultura, que influirão sobremaneira em todo o processo produtivo, principalmente no que se refere às características de qualidade destas frutas, tanto do ponto de vista organoléptico, bem como na sua aparência pós-colheita, fatores estes determinantes para o sucesso do empreendimento, dentro de um mercado bastante competitivo.

Assim, nesta oportunidade, abordaremos algumas considerações sobre alguns aspectos climatológicos como: temperatura do ar e suas influências; umidade relativa; precipitação pluviométrica; altitude e incidência de ventos que influem na cultura da banana.

2. Temperatura do ar

A temperatura do ar é um fator bastante importante no que se refere às condições climáticas, as quais devem estar condicionados os cultivos de banana.

Segundo Soto (1985), a temperatura do ar influencia diretamente o desenvolvimento das folhas da bananeira. Desta forma, temperaturas altas levam ao fechamento dos estômatos, que consequentemente reduz a taxa fotossintética, levando assim, a uma paralisação do crescimento. Quando estas temperaturas estão entre 38 e 40°C cessa o crescimento, levando a folha a apresentar o limbo estreito, curto e reduzido ao nível do pecíolo. Temperaturas entre 20 a 29°C levam a uma velocidade de crescimento máxima, considerando-se a temperatura de 28° C como a temperatura ótima, estando a temperatura de 13° C, como o limite inferior.

Para Champion (1968), citado por Volpe (1993) a temperatura de 25° C é a temperatura ideal para o bom desenvolvimento. Temperaturas abaixo de 16° C acarretam uma forte redução da atividade vegetativa. Assim, temperaturas de 21° C levam a um intervalo de 1 semana entre a emissão de folhas, quando estas são de 15° C esse período é de 2 semanas.

Segundo Doorendos e Kassem (1979), citado por Volpe (1993) a temperatura ótima para crescimento das bananeiras encontra-se entre 25 a 30? C, tendo como limites extremos as temperaturas de 15 e 35°C.

Como limite favorável de temperatura a 100cm do solo, na região do pseudocaule, Moreira (1987) cita a faixa de temperatura de 20 a 24° C, apresentando como limites extremos as temperaturas de 15 e 35° C. Temperaturas menores do que 12° C podem levar a injúrias nos tecidos, principalmente da casca dos frutos e, quando estas temperaturas chegam a 4°C, levam ao surgimento de manchas amarelas nos bordos das plantas, culminando com danos letais nessa área. Já para temperaturas maiores do que 35° C ocorre a inibição no desenvolvimento da planta com a desidratação dos tecidos, principalmente das folhas.

A ocorrência de baixas temperaturas atmosféricas leva ainda, a uma diminuição da temperatura do solo, que pode ocasionar a entrada em um estado de dormência das raízes, paralisando consequentemente o crescimento e o desenvolvimento da planta. Além disso, quando estas baixas temperaturas ocorrem em épocas de baixa precipitação pode ocorrer o "engasgamento" (dificuldade de lançamento) da inflorescência.

As baixas temperaturas são ainda responsáveis pelo que chamamos de "chilling" ou "friagem", que são danos fisiológicos na planta e nos frutos. Nas folhas, ocorre o fechamento total dos estômatos com conseqüente paralisação parcial ou total da respiração e coagulação dos cloroplastos das células. No fruto há a coagulação da seiva na casca, com um escurecimento abaixo da casca verde dos frutos. As plantas de qualquer maneira, normalmente, não morrem, visto que o rizoma não é afetado, mas leva sempre a prejuízos significativos no desenvolvimento normal das plantas.

A ocorrência do "chilling" é comum em regiões subtropicais onde a temperatura mínima noturna atinge a faixa de 4,5 a 10° C. Pode ocorrer ainda, quando de temperaturas inferiores a 12° C, estando os danos diretamente relacionados com o número de horas que as plantas estão expostas a estas temperaturas.

O "chilling" pode ainda, ocorrer na câmara de climatização, quando esta não está devidamente dimensionada e monitorada para esta operação.

Nos frutos de banana afetados pelo "chilling", o processo de maturação é prejudicado, onde a polpa amolece, a casca amarelece de forma não uniforme ou ainda continua verde (oxidação do tanino) e leva a um odor característico de fermentação.

Como uma alternativa para minimizar o efeito do "chilling" está o uso de sacos de polietileno colorido azul para a proteção dos cachos abertos.

Outro fenômeno meteorológico relacionado às baixas temperaturas é a geada, que pode ser de radiação ou branca (com formação de gelo) ou de advecção ou negra (sem haver congelamento da umidade do ar).

Para a bananeira, a geada é semelhante a uma "poda" de folhas e bainhas, levando a um secamento da planta, sendo mais preocupante em bananais novos.

Como alternativas de controle à geada, podemos adotar algumas técnicas preventivas:
• não plantar em baixadas;
• plantar na densidade recomendada, reduzindo desta forma os efeitos da irradiação do frio;
• plantar cultivares de porte-alto para que os cachos fiquem fora da zona de acumulação do ar frio intenso;
• manter o bananal nutrido, principalmente com potássio;
• em áreas sujeitas a frios mais intensos, escolher cultivares mais resistentes como, por exemplo ‘Maçã’ ou ‘Prata-anã’ (‘Enxerto’) em detrimento dos cultivares do sub-grupo Cavendish (‘Nanica’, ‘Nanicão’), que são mais suscetíveis.

Como técnicas efetivas de combate das geadas, pode-se utilizar o aquecimento do ar, com a queima de serragem salitrada em pontos estratégicos do bananal.

Essa serragem é composta pela mistura de 100 litros de serragem de madeira seca e peneirada + 8 litros de óleo diesel ou óleo queimado + 5 quilos de Salitre do Chile (Nitranchile) ou 8 quilos de Nitrocálcio.

Podemos também efetuar um controle preventivo de geada ou um tratamento para recuperação de bananais atingidos por frio através de pulverização utilizando-se: 400 litros de água + 4 quilos de Nitrato de Potássio + 2 quilos de Sulfato de Zinco + 1,2 quilos de Ácido Bórico + 12 quilos de açúcar cristal + 2 litros de AMINOM (aminoácidos). Efetuar a pulverização nas horas mais frescas do dia. Como preventivo, pulverizar na entrada do inverno e como recuperação de atingidas, a partir do momento que se tenha área foliar suficiente para absorção dos nutrientes.

Mesmo após a ocorrência de uma geada, pode ser utilizado um "manejo pós-geada" (Rangel, 1993). Neste caso, para plantas adultas sem emissão de cacho, realizamos a limpeza das folhas "queimadas". Após 30 - 40 dias, caso a planta não tenha emitido novas folhas, elimina-se a planta com o corte do pseudocaule o mais alto possível, conduzindo-se o filho. Se a planta voltar a vegetar esta deverá lançar um cacho, que mesmo sendo pequeno

 é comercializável. Para as plantas que no momento da geada apresentavam cacho, devemos eliminar a planta-mãe quando a área foliar comprometida for grande ou com cachos "queimados", conduzindo-se o rebento de melhor desenvolvimento. Quando estes estiverem com área foliar razoável, colher os cachos, selecionando as pencas aproveitáveis (frutos com 34mm ou mais de diâmetro).


3. Umidade relativa

A umidade relativa considerada ideal para o bom desenvolvimento da bananeira é aquela superior a 80%, que acelera a emissão de folhas; prolonga a longevidade da planta; favorece o lançamento da inflorescência e uniformiza a coloração da fruta.

A desvantagem é que quando de umidades relativas elevadas (acima de 80% por exemplo), esta propicia boas condições para o desenvolvimento do "Mal de Sigatoka".

4. Luminosidade

A luminosidade afeta diretamente o ciclo da bananeira, o tamanho dos cachos, a qualidade e a conservação do fruto.

Consideramos como ideal uma insolação (número de horas de brilho solar) maior que 2000 horas/ano, tendo como limite inferior 1000 horas/ano.

Ressaltamos ainda, que a bananeira não suporta sombra em suas folhas.

Entretanto, após o aparecimento da Sigatoka Negra no Brasil, observa-se que os bananais mais adensados (com menor luminosidade) apresentam menor grau de infecção da doença, pois a velocidade de reprodução do fungo causal é reduzida na ausência de luz.


5. Preciptação

Com relação à precipitação, as melhores produções ocorrem quando estas estão em torno de 1900mm/ano, preferencialmente de forma bem distribuída durante o ano, entre 100 - 180mm/mês.

A deficiência hídrica paralisa as atividades das plantas, levando a um amarelecimento das folhas; à formação de cachos menores e de frutos de qualidade inferior. A deficiência hídrica é ainda mais prejudicial quando esta ocorrer na época de formação da inflorescência ou no início da frutificação.

Segundo Brunini (1984), os cultivares apresentam diferenças quanto à tolerância a seca, desta forma temos:
• Pouco tolerante: OURO
• Medianamente tolerante: NANICA E NANICO
• Tolerante*: demais cultivares

* Obs: sem deficiência hídrica na estação vegetativa.

A umidade do ponto de murchamento está em torno de 40mm/mês. Abaixo desse valor, ocorre inicialmente uma diminuição da fotossíntese com conseqüente atraso no ciclo vegetativo, com a saída mais lenta das folhas e diminuição do crescimento das flores. Posteriormente ocorre um secamento acelerado das folhas mais velhas.


6. Altitude

 A altitude afeta diretamente a temperatura, a precipitação, a umidade relativa e a luminosidade, influindo decisivamente no desenvolvimento e na produção da bananeira, afetando diretamente o ciclo. Quanto maior a altitude, maior o ciclo da cultura (no Planalto Paulista a produção é tardia em relação às tradicionais zonas de cultivo do Vale do Ribeira).

Soto (1985) aponta como uma altitude considerada ótima para o cultivo da banana, a faixa entre 0 - 300m.

Fica evidente a influência da altitude no ciclo da cultura com os exemplos dos trabalhos realizados nas Ilhas Canárias, onde a cada 100m de altitude o ciclo se prolonga em 45 dias e, na Jamaica, onde a cada 70m de altitude o ciclo se prolonga em 76 dias, ou ainda segundo Moreira (1987) especificamente para o sub-grupo Cavendish, a baixas altitudes o ciclo da cultura está entre 8 a 10 meses e a 900m este ciclo chega a 18 meses.

7. VENTO

A ação danosa dos ventos leva segundo Moreira (1987) a perdas de até 20 a 25% da produção no Estado de São Paulo.

Podemos relacionar os danos causados pela ação dos ventos em:
• desidratação da planta devido à evapotranspiração excessiva, quando de ventos quentes e secos;
• "chilling" ou friagem, quando da ocorrência de ventos frios;
• fendilhamento das nervuras secundárias, que leva a diminuição da área foliar;
• diminuição do comprimento de raízes;
• quebra do pseudocaule levando consequentemente ao tombamento da bananeira;
• amarelecimento e seca parcial das folhas;
• exposição do fruto à radiação solar;
• aumento do ataque de nematóides;
• produção de cachos de menor tamanho e peso;
• aumento do ciclo da cultura.

A importância dos danos causados pela ação dos ventos é proporcional ao porte e a idade da planta; à profundidade do rizoma e enraizamento; ao tipo do solo; à umidade do solo e ao espaçamento adotado.

Segundo Soto (1985) os limites de velocidade podem ser enquadrados segundo segue abaixo, relacionando os danos causados nestas faixas de velocidade do vento:
• 30 - 40km/h: fendilhamento de folhas;
• 40 - 50km/h: rompimento do sistema radicular e quebra do pseudocaule;
• > 55Km/h: : destruição total.

Moreira (1987) aponta os seguintes valores de velocidade aos quais estão relacionados danos específicos:
• 30km/h: fendilhamento de folhas;
• > 70km/h: rompimento do sistema radicular;
• >100km/h: quebra do pseudocaule ou tombamento da planta.

Para diminuir os danos causados pela ação de ventos constantes, algumas técnicas podem ser utilizadas como:
• substituir os cultivares de porte alto por aqueles de porte baixo;
• realizar um adequado controle de broca e nematóide;
• realizar uma adubação equilibrada;
• escorar os pés de banana com bambu, varas ou amarração dos pés com fios plásticos.;
• efetuar o plantio de quebra-vento nas áreas periféricas do bananal ;
• evitar o plantio em faces do terreno expostas à ventos frios e/ou constantes.

Além disso, a ação danosa do vento, pode ser atenuada com a utilização de quebra-ventos. Podemos, por exemplo, utilizar como quebra-vento, a acácia, a leucena, o bambu etc.

Na orientação do quebra-vento, este deve estar perpendicular ao vento problema ou predominante. A altura do quebra-vento, deve ser de 2 a 3 vezes, no mínimo, altura da bananeira, e a distancia entre as linhas deve ser de 20 vezes a altura da espécie escolhida (por exemplo , uma árvore de 10 metros de altura apresenta uma faixa de proteção de 200 metros – 10m x 20 = 200 m então, haverá uma linha de quebra vento , dessa árvore a cada 200 metros). Segundo Moreira (1987), o bambu apresenta vantagens, como flexibilidade e ainda fornece varas para o escoramento.

8. Adaptação Climática
 
Segundo Camargo et al (1976), citado por Volpe (1993), a aptidão climática para a bananeira é apresentada como:

? Fator Térmico: limite de faixa térmica favorável:
T°C média anual = 22°C
T°C média de inverno = > 18°C
limite da faixa de restrição térmica:
T°C média anual = 18?C

? Fator Hídrico: déficit hídrico:
= 0mm: ausência de estação seca
aptidão para todos os cultivares
= 100mm: estação seca pronunciada
acima deste valor só as variedades tolerantes não sofrem restrição
= 200mm: estação seca muito pronunciada
necessidade de irrigação complementar.

9. Conclusões

 Podemos pois apresentar como condições ideais para um bom desenvolvimento da bananeira, os seguintes pontos:

• altas temperaturas com pouca variação durante o ano;
• elevada disponibilidade hídrica e com chuvas bem distribuídas.

Nestas condições a bananeira apresenta hábito de crescimento contínuo e rápido, com a formação de cachos de alto valor comercial.

10. Referências Bibliográficas

 BRUNINI, O. Exigências climáticas e aptidão agroclimática da bananicultura. In.: Simpósio Brasileiro sobre Bananicultura., 1984, Jaboticabal, SP. Anais..., FCAVJ/UNESP, p.99 - 117

MOREIRA, R.S. Banana: Teoria e Prática de Cultivo. Campinas, Fundação

 Cargill, 1987. 335p.

PENTEADO, L.A.C. A falta de chuvas e altas temperaturas. Um desastre para a bananicultura. (MIMEOGRAFADO).

PENTEADO, L.A.C. e OLIVEIRA, J.A. Ventos e o bananal (MIMEOGRAFADO).

RANGEL, A. Comportamento da cultura da banana no frio. Curso Prático de Bananicultura, FCAVJ/UNESP, 1993. (PALESTRA)

Soto, M. Bananas. Costa Rica, 1985, 623p.

TONET, R. M. Aspectos climatológicos na cultura da banana. Curso de Atualização em Bananicultura, Avaré, 1995. (PALESTRA)

VOLPE, C. Fatores e elementos de clima relacionados com a cultura da bananeira. Curso Prático de Bananicultura, FCAVJ/UNESP, 1993. (MIMEOGRAFADO).