Família Ferreira, que investe na cultura como principal atividade econômica, conta com o apoio técnico da Casa da Agricultura de Paraibuna, ligada à CATI Regional Pindamonhangaba, para expandir e aprimorar, de forma sustentável, a produção de tomate com adoção de tecnologia em estufas construídas e/ou ampliadas com recursos do Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista (Feap)
O sol está se pondo, mas no sítio Salina, a família Ferreira – d. Concetta, a mãe, italiana de nascimento, mas brasileira de coração, corpo e alma; e os dois filhos, Rodrigo e Renato – continua na corrida diária para entregar a demanda constante de tomate italiano (tipo saladete), produzido de forma sustentável com uso mínimo de agroquímicos.
Do plantio à comercialização – que é feita por meio da Centrais de Abastecimento (Ceasa), mas com foco crescente na venda direta, que atualmente engloba restaurantes e feiras, bem como em programas de Compras Públicas, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) –, todo o trabalho é realizado pela família, que conta com o apoio de um único colaborador, o Erinaldo. Mas do início com o cultivo totalmente em campo aberto, para as cinco estufas com ambiente controlado, que, além de otimizar os custos e a mão de obra, tem permitido um maior controle de pragas e doenças, o caminho percorrido ganhou fôlego e sustentabilidade com apoio da CATI.
Da esquera para a direita, Haley de Carvalho, diretor da CATI Regional Pindamonhangaba; os produtores d. Concetta e Rodrigo Ferreira; e Sergio Ishicawa, engenheiro agrônomo da Casa da Agricultura de Paraibuna.
“Para implantar o cultivo em ambiente protegido, é necessário um investimento mais alto. Vendemos o pequeno caminhão que tínhamos para colocar “em pé” a primeira estufa de madeira. E fizemos um planejamento a longo prazo para passar toda a produção do campo aberto (iniciada na região pela minha família há mais de 20 anos e há quatro em Paraibuna), onde é muito mais suscetível a pragas, doenças e às questões climáticas, para as estufas com investimento em tecnologia. Mas, com o apoio técnico que temos da CATI desde início, nosso sonho se converteu em realidade em menos da metade do tempo estimado: em três anos, alcançamos uma produção média semanal de cerca de 100 caixas de 23kg cada, com uma área instalada de 5.000m2 de estufas, com o acesso aos recursos do Feap e o acompanhamento técnico da CATI para a melhor aplicação”, explica o produtor Rodrigo Ferreira.
Nesse contexto, Sérgio Ishicava, engenheiro agrônomo responsável pela Casa da Agricultura de Paraibuna, afirma que o Sítio Salina é um exemplo na região, tanto na adoção de tecnologia como na modalidade de crédito rural assistido.
“Cheguei em Paraibuna em 2021, transferido da CATI Regional Bauru, onde eu atuava diretamente com um grande grupo de olericultores. Ao fazer um levantamento no município para iniciar um projeto na área, identifiquei que o município já teve uma área expressiva no cultivo do tomate em campo aberto, porém a maioria parou com a atividade, por conta do aumento da incidência de pragas, bem como pelo desgaste do solo. Nesse mesmo ano, ocorreu uma geada muito forte no município, que ocasionou prejuízos aos produtores, entre os quais a família Ferreira, que tinha cerca de 10 mil pés em campo aberto. No dia em que caiu a geada, fiz uma visita prévia na propriedade para verificar os preparativos para proteger a lavoura e observei que o Rodrigo tinha um cuidado especial, tendo feito testes prévios dos pontos para queimar lenha e produzir fumaça, protegendo assim, a lavoura. Neste dia fiz algumas sugestões que foram prontamente aceitas, o que demonstrou a disposição deles para adoção de tecnologias orientadas”, explica Ishicava, informando que, apesar dos cuidados, houve uma perda significativa.
Segundo o agrônomo, a perda foi minimizada com o primeiro acesso da família Ferreira à linha de crédito emergencial do Feap logo após a geada. “Observando a propriedade nesta ocorrência, dois pontos me chamaram atenção: o uso de métodos alternativos de controle de pragas (traça do tomateiro – uma das grandes responsáveis pela diminuição da cultura em Paraibuna), como uso de armadilhas de feromônios, e soltura de inimigos naturais (vespa Trichograma para predar os ovos da traça). Isso demonstrou a preocupação quanto à qualidade de seus tomates para comercialização e cuidado com a parte ambiental”, comenta Ishicava, ressaltando que, a partir de então, traçou uma linha de ação junto com a família para que a propriedade e a produção se tornassem cada vez mais sustentáveis.
Sobre o primeiro crédito acessado, Ishicava ressalta que o recurso auxiliou a família na safra seguinte, pois possibilitou investimento para obtenção de uma boa produção e rentabilidade, que foi direcionada para a construção de uma estufa rústica do tipo Londrina (com cerca de 1.000m2). “Apesar de o manejo neste tipo de estufa ser um pouco mais complexo, no que se refere ao controle de pragas como a traça, os produtores colheram bons resultados, o que os levou a ter como meta a ampliação do cultivo em ambiente protegido, pelo fato de, neste sistema, ser possível ampliar o período de safra com maior segurança na produção, melhor controle de pragas e doenças, bem como proteção contra intempéries climáticas, explica, informando que, neste momento, foi feito um segundo projeto nos moldes de crédito assistido pelo Feap, no valor aproximado de R$ 100 mil, para aquisição e construção de estufas metálicas de pé direito alto e telas laterais, que garantem maior proteção contra a traça do tomateiro, em uma área de 1.224m2”, esclarece o agrônomo.
Animados com os bons resultados, após alguns meses, a família Ferreira acessou o Feap pela terceira vez, por meio de projeto elaborado pela Casa da Agricultura, e construíram mais estufas, completando os 5.000m2 atuais. “Aliando a produção a sua preocupação ambiental, a família investiu também na construção de um reservatório de água canalizando a água das chuvas das estufas aproveitando para uso na irrigação e na seca continuando a usar do poço semiartesiano”, comenta Ishicava.
Para Haley Silva de Carvalho, diretor da CATI Regional Pindamonhangaba, a parceria com produtores como a família Ferreira, favorece o trabalho de extensão rural na região. “Quando temos em um município um técnico dedicado e com muita experiência, e produtores como a família Ferreira, abertos à adoção de tecnologia, às orientações técnicas, e que ainda abrem a propriedade para que possamos divulgar conhecimento e capacitar outros produtores, temos uma verdadeira equação de sucesso. Aliado a isso, o profissionalismo que estes produtores têm do plantio à comercialização é ponto chave no desenvolvimento sustentável do negócio”.
Investimento na sustentabilidade da propriedade
De acordo com o Ishicava, na nova estrutura produtiva, a família reduziu ao mínimo o uso de defensivos agrícolas. “No início, quando havia a necessidade de um controle maior de pragas, orientamos o uso de biológicos e bioinsumos aliado ao manejo ambiental”, explica o extensionista, salientando que a preocupação com a saúde do solo fez com que o produtor investisse, com acompanhamento técnico, em receitas de biofertilizantes nos 5.000m2 de estufas, adotando o Sistema de Plantio Direto na Palha em Hortaliças (SPDH), o qual possibilitou a cobertura do solo com uso de palhada seca. “A adoção dessas práticas possibilitou que os produtores deixassem de usar o sistema de fertirrigação com adubos solúveis, passando a serem usadas fontes de liberação mais lenta. Após avaliar os ciclos de cultivo durante três anos, é possível observar que a produtividade tem se mantido elevada, mesmo sem o uso dos adubos solúveis”.
Sobre o panorama atual, Ishicava relata que, com as altas temperaturas atuais, irrigação elevada e cultivo em pelo menos três ciclos, houve aumento da incidência de nematoide (praga que causa danos econômicos à cultura), o que “forçou” a adoção de técnicas para minimizar o problema. “Ampliando o uso dos produtos biológicos específicos, de mudas enxertadas, bem como a ampliação do uso da cobertura morta, entre outras práticas recomendadas e acompanhadas tecnicamente pela CATI, os resultados têm sido além do esperado”, esclarece o agrônomo, dizendo que “acompanhando o desenvolvimento da cultura neste contexto, uma de nossas preocupações foi manter e melhorar a saúde do solo. Assim, após cada ciclo, sugerimos também a rotação de culturas para ‘descansar’ o solo, usando plantas de cobertura como milheto ou mesmo plantas espontâneas. As práticas combinadas resultaram em melhor qualidade dos frutos, menor incidência de pragas e maior produtividade”, explica o agrônomo.
Ações e tecnologias adotadas pela família Ferreira ultrapassam fronteiras
Os excelentes resultados obtidos na produção sustentável de tomates chegaram ao conhecimento dos organizadores do 57.° Congresso Brasileiro de Olericultura – “Olericultura 4.0: desafios e oportunidades”, que aconteceu no início do mês de agosto, no Instituto Agronômico (IAC), em Campinas, com apoio da CATI e de parceiros. Na ocasião, durante painel dedicado a cases de sucesso de produtores rurais, Rodrigo Ferreira apresentou o trabalho realizado junto com a CATI, ministrando a palestra “Tomate em ambiente protegido com palhada e uso de bioinsumos”.
Casa da Agricultura tem investido na olericultura
Paraibuna já teve uma área expressiva no cultivo do tomate em campo aberto, porém houve grande redução na área cultivada e no número de produtores, por conta do aumento de incidência de pragas e desgaste do solo.
Com o objetivo de alavancar a olericultura, especialmente as culturas de tomate e alface no município e na região, Ishicava destaca que têm sido realizadas diversas ações. “No início deste ano, realizamos um curso de nutrição biológica do solo que, além de ampliar os conhecimentos e incentivar práticas sustentáveis com o uso de biofertilizantes, aumentou a divulgação de técnicas para outros produtores da região, em eventos como o Campo Demonstrativo (CD), realizado em uma área com diversos tratamentos para a cultura da alface. “E no mês de julho, realizamos um encontro com os 23 participantes do curso, incluindo produtores, técnicos da CATI Regional Pindamonhangaba e parceiros como empresas de remineralizadores de solo (pó de rocha), onde foram apresentados os resultados do CD, incluindo tempo de prateleira no pós-colheita, que aumentou após a adoção das práticas recomendadas”, explica o agrônomo.